segunda-feira, 6 de maio de 2013

Dilemas da Crítica Literária no Brasil

DILEMAS DA CRÍTICA LITERÁRIA NO BRASIL


    Crivada de problemas de toda ordem, a crítica literária atravessa uma crise aguda. Até mesmo seu estatuto fôra ameaçado: qual o lugar da Critica Literária? Qual su contribuição para a constituição do ser humano?
    O conhecimento de obras literárias foi visto como estéril movimento do saber para o que é inútil. Ter como objeto o texto literário também se tornou um fardo vergonhoso, por estudar o fictício, a enganação, a velha mimesis de Platão. O mesmo fantasma ronda a cidade crítica: a consciência de seu papel distinto na construção do homem em sua plenitude.
    O desconforto nasce quando o repertório literário é julgado um manancial de inutilidades, para o qual não houve espaço no jornal durante as últimas décadas do século XX. Esse é o primeiro grande ponto ou dilema que a crítica literária precisa resolver para estancar o sangramento que virulentamente corre para áreas afins, como Ciências Sociais (na busca pelos Estudos Culturais), a Filosofia (na busca por Hermenêuticas) e Outras artes (na busca de um refúgio que aliviasse o melodrama do rejeitado e estanho objeto de desejo: a literatura).
    Na busca de relação com outras artes, a defesa do literário e sua relevância devem estar sedimentadas no cabedal de conhecimento de todo o profissional de Letras, sobretudo em Literatura.
    Então é fundamental a revalorização da natureza literária, para que a crítica subsista e não perca seu material mais complexo de investigação: a obra literária.
    Revalorizar a literatura significa primeiramente conhecer sua essência, para depois lhe projetar, identificar, reconhecer e valorizar a presença literária. Para tanto, a velha noção de literatura atrelada ao impresso precisa cair por terra, pois o discurso verbal pode acontecer de outros modos. 

Primeiro trecho da transcrição (fotocópia-xerox).

Não estranha que o principal problema da crítica hoje seja justamente a abordagem sobre a Literatura Contemporânea, porque exige o conhecimento da literatura, isto é, um conceito além de pensar nas suas relações e problemas com o mundo atual, notadamente cada vez mais ágrafo, embora utilize grafemas. Pode parecer excessivo, mas na verdade a sociabilidade contemporânea ruma para destinos que excluem a escrita, como suporte arcaico. A leitura é tolerada como meio de comunicação disponível. O principal contratempo, no entanto, não é a presença de grafemas mas essencialmente sua utilização para registrar e comunicar, sob uma forma coloquial, espontânea e imediata. Sua natureza é evidentemente oral, mas começa a se afirmar na escrita, tomando quase todo o espaço da produção textual da grande massa. Esse é o segundo problema que a crítica precisa enfrentar e estudar como fenômeno cultural que impacta na formação do homem pela dimensão do diiscurso e se relaciona com outras instituições, suportes e tecnologias. Além de reconfigurá-lo pelo discurso, deve reconfigurá-lo mais amplamente pela linguagem. Essa é a língua como exercício de toda a linguagem, isto é, a redução das possibilidades escricionárias e escriturais do homem ao denotativo. Roland Barthes irá dizer que esse domínio é fascista, indicando apenas um caminho obrigatório para a fala e o sentido, produção e leitura. Livrar o homem dessa alienação e reificação através do pensamento sobre língua, literatura e linguagem é apenas um dos “inúteis” objetivos da área de Letras. É preciso defender a dimensão criativa, extraordinária e imaginativa que constitui a maior complexidade e a maior relevância do homem.
    Superados esses dois problemas fundamentais, ligados à autoestima do campo literário, o dilema principal da crítica literária surge da relação entre os dois problemas: o nível constitutivo e o nível relacional da obra literária. A crítica literária precisa resistir ao esvaziamento do literário e a escassez do exercício crítico para refletir a relação entre literatura e história, isto é, qual o lugar da literatura e o papel do lugar com seus agentes: autor, leitor, crítico. Muitas vezes o objeto literário é pensado como reflexo da sociedade, de modo que a obra de literatura é dessarte porque o contexto histórico é destarte. Essa ligação (venal em todos os sentidos, desde visceral à venenosa) - essa ligação entre literatura e história põe a literatura a serviço da doxa, institucionalização verbal da complexa dinâmica social. Por aqui insiste Antonio Candido com sua sociologia da literatura, ávida de indiferenciar a literatura frente a outras produções culturais. Todorov, recentemente no livro A literatura em perigo, querendo exorcizar a pecha anti-histórica e anticontextual do estruturalismo (do qual participou ativamente) terminou arranjando outros fantasmas, por exemplo definir literatura como relato da civilização, símbolo nacional e ou cultural capaz de traduzir e informar o espírito da nação e de seu habitante. Além de ser teoricamente equivocada, a escolha do tema como critério para construir o cânone já vem demonstrando seu desastre agora também em termos práticos e objetivos: verificando o espírito nacional e a capacidade de a obra literária transmiti-lo, estruturou-se repleto de problemas que são reflexo e resultado dos dilemas da crítica literária no Brasil, graças à escassez do debate teórico.
    Mal definido ou mal tratado, o objeto literário permanece no canto escuro do abominável. 
 
Segundo trecho subsequente da transcrição (fotocópia-xerox).

Nenhum comentário:

Postar um comentário