DILEMAS DA CRÍTICA LITERÁRIA NO BRASIL
Crivada de problemas de toda ordem, a crítica literária atravessa uma
crise aguda. Até mesmo seu estatuto fôra ameaçado: qual o lugar da
Critica Literária? Qual su contribuição para a constituição do ser
humano?
O conhecimento de obras literárias foi visto como estéril movimento do
saber para o que é inútil. Ter como objeto o texto literário também se
tornou um fardo vergonhoso, por estudar o fictício, a enganação, a velha
mimesis de Platão. O mesmo fantasma ronda a cidade crítica: a
consciência de seu papel distinto na construção do homem em sua
plenitude.
O desconforto nasce quando o repertório literário é julgado um
manancial de inutilidades, para o qual não houve espaço no jornal
durante as últimas décadas do século XX. Esse é o primeiro grande ponto
ou dilema que a crítica literária precisa resolver para estancar o
sangramento que virulentamente corre para áreas afins, como Ciências
Sociais (na busca pelos Estudos Culturais), a Filosofia (na busca por
Hermenêuticas) e Outras artes (na busca de um refúgio que aliviasse o
melodrama do rejeitado e estanho objeto de desejo: a literatura).
Na busca de relação com outras artes, a defesa do literário e sua
relevância devem estar sedimentadas no cabedal de conhecimento de todo o
profissional de Letras, sobretudo em Literatura.
Então é fundamental a revalorização da natureza literária, para que a
crítica subsista e não perca seu material mais complexo de investigação:
a obra literária.
Revalorizar a literatura significa primeiramente conhecer sua essência,
para depois lhe projetar, identificar, reconhecer e valorizar a
presença literária. Para tanto, a velha noção de literatura atrelada ao
impresso precisa cair por terra, pois o discurso verbal pode acontecer
de outros modos.
Primeiro trecho da transcrição (fotocópia-xerox).
Não
estranha que o principal problema da crítica hoje seja justamente a
abordagem sobre a Literatura Contemporânea, porque exige o conhecimento
da literatura, isto é, um conceito além de pensar nas suas relações e
problemas com o mundo atual, notadamente cada vez mais ágrafo, embora
utilize grafemas. Pode parecer excessivo, mas na verdade a sociabilidade
contemporânea ruma para destinos que excluem a escrita, como suporte
arcaico. A leitura é tolerada como meio de comunicação disponível. O
principal contratempo, no entanto, não é a presença de grafemas mas
essencialmente sua utilização para registrar e comunicar, sob uma forma
coloquial, espontânea e imediata. Sua natureza é evidentemente oral, mas
começa a se afirmar na escrita, tomando quase todo o espaço da produção
textual da grande massa. Esse é o segundo problema que a crítica
precisa enfrentar e estudar como fenômeno cultural que impacta na
formação do homem pela dimensão do diiscurso e se relaciona com outras
instituições, suportes e tecnologias. Além de reconfigurá-lo pelo
discurso, deve reconfigurá-lo mais amplamente pela linguagem. Essa é a
língua como exercício de toda a linguagem, isto é, a redução das
possibilidades escricionárias e escriturais do homem ao denotativo.
Roland Barthes irá dizer que esse domínio é fascista, indicando apenas
um caminho obrigatório para a fala e o sentido, produção e leitura.
Livrar o homem dessa alienação e reificação através do pensamento sobre
língua, literatura e linguagem é apenas um dos “inúteis” objetivos da
área de Letras. É preciso defender a dimensão criativa, extraordinária e
imaginativa que constitui a maior complexidade e a maior relevância do
homem.
Superados esses dois problemas fundamentais, ligados à autoestima do
campo literário, o dilema principal da crítica literária surge da
relação entre os dois problemas: o nível constitutivo e o nível
relacional da obra literária. A crítica literária precisa resistir ao
esvaziamento do literário e a escassez do exercício crítico para
refletir a relação entre literatura e história, isto é, qual o lugar da
literatura e o papel do lugar com seus agentes: autor, leitor, crítico.
Muitas vezes o objeto literário é pensado como reflexo da sociedade, de
modo que a obra de literatura é dessarte porque o contexto histórico é
destarte. Essa ligação (venal em todos os sentidos, desde visceral à
venenosa) - essa ligação entre literatura e história põe a literatura a
serviço da doxa, institucionalização verbal da complexa dinâmica social.
Por aqui insiste Antonio Candido com sua sociologia da literatura,
ávida de indiferenciar a literatura frente a outras produções culturais.
Todorov, recentemente no livro A literatura em perigo, querendo
exorcizar a pecha anti-histórica e anticontextual do estruturalismo (do
qual participou ativamente) terminou arranjando outros fantasmas, por
exemplo definir literatura como relato da civilização, símbolo nacional e
ou cultural capaz de traduzir e informar o espírito da nação e de seu
habitante. Além de ser teoricamente equivocada, a escolha do tema como
critério para construir o cânone já vem demonstrando seu desastre agora
também em termos práticos e objetivos: verificando o espírito nacional e
a capacidade de a obra literária transmiti-lo, estruturou-se repleto de
problemas que são reflexo e resultado dos dilemas da crítica literária
no Brasil, graças à escassez do debate teórico.
Mal definido ou mal tratado, o objeto literário permanece no canto escuro do abominável.
Segundo trecho subsequente da transcrição (fotocópia-xerox).
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