sexta-feira, 5 de julho de 2013

Vinícus de Moraes, cantado

Atenção alunos!!

Especial Globo News homenageia 100 anos de Vinícius de Moraes. A instrumentação ficou a cargo da OSESP - Orquestra Sinfônica de São Paulo.

http://globotv.globo.com/globo-news/sarau/v/osesp-homenageia-os-100-anos-de-vinicius-de-moraes/2662460/

Valerá como Curso de Extensão (20h) o aluno que produzir texto de 100 200 palavras a respeito de cada 4 (quatro) músicas do repertório apresentado, devendo postar um de cada vez.

É obrigatório abrir diálogo com o professor pelo menos uma vez por música.

Nota: Agradeço ao meu amigo Luiz da Rocha Bezerra, por me informar tão importante evento para o mundo das Letras.

Post Scriptum: O Curso "Vinícius de Moraes, cantado" entrou no formato dos outros cursos: 4 textos de 100 200 palavras (3h x 4 textos = 12h), contando a leitura (2h x 4 textos = 8h).


21 comentários:

  1. Bom dia Camillo, meu nome é Raeltom S. Munizo, sou estudante de Letras Vernáculas do III semestre e gostaria de participar deste projeto.

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  2. Atenção Raeltom e demais interessados no Curso "Vinícius de Moraes, cantado" (20h):

    Basta clicar no link, assistir ao programa, depois rever isoladamente cada música, finalmente se deter numa música até elaborar 100 palavras (nesse momento, poste um diálogo para com o professor). Repetir o procedimento para outras três músicas. Analisar, evidentemente, o material verbal, isto é, apenas a "letra da música", pois é o que cabe para uma atividade de Letras.

    P.S.: Raeltom, eu sei quem você é: foi meu aluno de Teoria Literária com post na Wikipédia. Você estava encarregado de comentar uma obra do meu amigo Eduardo Portella, não é? Grande abraço.

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    1. Sim, fui seu aluno de Teoria da literatura II e realizei a redação de verbetes acerca de Eduardo Portella.

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    2. Olá professor Camillo! Bom dia! Sou a Laise Gonçalves, aluna do III Semestre de Letras Vernáculas e também tive um grande interesse no projeto, porém, gostaria de conversar com o senhor depois para entender melhor. Abraço forte.

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  3. UESB: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
    PROJETO: VINÍCIUS DE MORAIS, CANTADO
    DOCENTE: CAMILLO CAVALCANTI
    DISCENTE: RAELTOM SANTOS MUNIZO
    DATA: 13/07/2013

    Primeira música a ser analisada:
    Uma música que seja... ¹
    “... como os mais belos harmônicos da natureza. Uma música que seja como o som do vento na cordoalha dos navios, aumentando gradativamente de tom até atingir aquele em que se cria uma reta ascendente para o infinito. Uma música que seja como o som do vento numa enorme harpa plantada no deserto. Uma música que seja como a nota lancinante deixada no ar por um pássaro que morre. Uma música que seja como o som dos altos ramos das grandes árvores vergadas pelos temporais. Uma música que seja como o ponto de reunião de muitas vozes em busca de uma harmonia nova. Uma música que como o vôo de uma gaivota numa aurora de novos sons.”

    “Uma música que seja...” de Vinícius de Moraes expressa um ideal de canção, porque o autor demonstra, de acordo com o discurso dessa música, uma espécie de “receita” de como seria uma bela e natural melodia, pois o título é um dos componentes textuais que aborda essa ideia; no decorrer da canção, o poeta discorre acerca das características essenciais de uma linda música que deve conter uma harmonia natural. A comparação da melodia poética com elementos da natureza é algo recorrente no texto.
    O vento, por ser um dos elementos da natureza que conduz os sons, é usado na canção para expressar, gradativamente, o intento de se alcançar a harmonia sibilante que se dirige ao que Vinícius chama de infinito. Aliás, o termo infinito é algo recorrente em várias poesias e cantares do “poetinha”, talvez porque a palavra poética escrita e entoada seja de fato, os elementos que o tempo não fere, pois cabe a ele guardá-los em seu fluir, afim de emergi-los com a ajuda da natureza até a sociedade para que o homem possa fazer-se poeta e criar o “seu grão de poesia”².
    Uma música ideal deve representar momentos, nos quais a emoção não tem fim, por isso não tem começo. Além disso, ela deve ser como o ar que invade os lugares menos inóspitos do planeta, a exemplo de um deserto que, não tem muitos habitantes para ouvir a musicalidade dos cantores da natureza, mas tem ventos em abundância que trazem notas penduradas em seus galhos. Então, de acordo esses trechos, a melodia está em todo canto do vasto mundo.
    A música harmônica deve ser o equilíbrio estabelecido por várias vozes e também como uma gaivota que com suas asas mantêm o equilíbrio do vôo e abre caminho por entre o ar.
    Enfim, Vinícius de Moraes propõe uma “receita” de música que seja, antes de tudo, uma harmonia natural.
    Notas:
    (1)- música extraída da obra: MORAES, Vinícius de. Para viver um grande amor. 22. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989. Pág. 24.
    (2)- trecho extraído do poema: O poeta aprendiz de Vinícius de Moraes

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    1. Oi Raeltom, e sobre as imagens poéticas? Há tantas representações interessantes no texto, muitas impossíveis, irreais, incongruentes.

      De que modo essas figuras contribuem para a mensagem?

      Abraço.

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    2. Basta descrever as imagens, apontando o nexo entre elas para organização da própria mensagem.

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    3. Os "belos harmônicos da natureza" representa a harmonia que uma música deveria se basear; "o som do vento na cordoalha dos navios" é outra imagem poética que remete a ideia de que uma música deveria ser leve e natural tal qual o som do vento; " a nota lancinante deixada no ar por um pássaro que morre." alude ao incongruente, pois um pássaro não lança uma nota sonora para morrer após o feito; "o som do vento numa enorme harpa plantada no deserto" é outra imagem poética surreal que serve de intensificador ao propósito da música, ou melhor, por essa passagem se percebe a quebra natural das comparações, pois, até então, os elementos de comparação eram figuras comuns da natureza e, com esse trecho, Vinicius estabelece uma imagem poética plurissignificativa e incomum. "O som dos altos ramos das grandes árvores vergastadas pelos temporais" nota-se a retomada das comparações da música com constituintes da natureza; "o ponto de reunião de muitas vozes em busca de uma harmonia nova" isso, de certo modo, remete à busca do ponto comum de harmonia que uma música cantada e sentidas por varias pessoas deve conter, ou pode aludir também à ideia de que uma música deveria transmitir ideais comuns. por fim, "o vôo de uma gaivota numa aurora de novos sons" dá a entender que uma bela melodia deve manter contato com outros sons bonitos.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Camillo Cavalcanti, qual é a importância de Vinícius de Moraes para a música popular brasileira? E qual sua opinião sobre esse trecho: "Uma música que seja como a nota lancinante deixada no ar por um pássaro que morre".

    Att: Raeltom S. Munizo.

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    1. Vinícius atua na música brasileira como letrista, isto é, forneceu textos a serem cantados em meio à música. Esse material tem profundidade e alto valor, porque consegue falar ao povo sem perder a grandeza. A filosofia não precisa de palavras eruditas: a maior amizade (filo) à sabedoria (sophia) seria dizer as coisas bem claramente às pessoas, ainda que recorra a terminologias e sistemas intrincados.

      Somente um poeta escreve a frase que você destacou, Raeltom. Veja bem:

      Uma música que seja como A NOTA LANCINANTE

      Esse sintagma já traz uma confusão de sensações impossíveis para o mundo ordinário: um som não pica, o que pica nem sempre faz som, etc.

      "deixada no ar" também aponta para uma realidade extra-ordinária, fora do ordinário: deixar no ar também no nível psicológico, referindo talvez o implícito, caracterizando-se pela abrangência, tanto no clima ("um ar") natural quanto no clima ("um ar") emocional. Nasce a plurissignificação, pois "deixada no ar", assim como todos os elementos da frase, possui(em) amplos e MÚLTIPLOS sentidos.

      "por um pássaro que morre" também traz uma especificidade, uma estilização: não é qualquer pássaro, quer dizer, nem todo pássaro conseguiria disseminar essa música, guardada na nota lancinante: somente o pássaro moribundo, aquele que morre.

      Por fim, a poética de Vinícius de Moraes em geral afirma esse pessimismo que ressalta a tristeza, a lamúria, a derrota, o ciúme, a traição, o choro, como destino do homem. De modo que perfeitamente integra o grupo da bossa-nova, que muito se dedicou ao fracasso espiritual como tema, sobretudo sem João Gilberto.

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  6. UESB- UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
    PROJETO- VINICIUS DE MORAES, CANTADO.
    DOCENTE- CAMILLO CAVALCANTI
    DISCENTE- RAELTOM SANTOS MUNIZO
    DATA- 15/ 07/2013
    TEMA- “O POETA APRENDIZ”

    A segunda etapa desse presente trabalho consiste em abordar e analisar as questões estéticas, estruturais e semânticas que abarca o discurso do poema e música: “O poeta aprendiz”, de Vinicius de Morais e Toquinho, no qual a ideia fundamental abrange uma transplantação da sua experiência cotidiana vivida enquanto infante e das memórias para o poema-canção.

    O exame estético desse poema direciona-se aos postulados poéticos elaborados pelos modernistas da segunda geração, nos quais estavam presentes os ideais de se produzir um estilo literário voltado à transplantação do contexto social da nação brasileira para a poesia, para isso, estes modernistas colocaram em segundo plano a questão da metrificação presente em sonetos do modelo clássico camoniano. No entanto, Vinicius foi um poeta que, por estudar em uma escola com preceitos eruditos, produziu excelentes sonetos, mas diferentemente dos parnasianos, por exemplo, engendrou neles uma linguagem popular e bonita que se enquadra maduramente no ideal da Geração poética do Modernismo. No “O poeta aprendiz” nota-se um poema estruturado por polirrimas emparelhadas e que não se repetem ao longo do texto, mas nos últimos três versos há uma quebra dessa sequência que, de certo modo, faz o leitor se atentar nesses trechos, porque são neles que se percebe a retomada da ideia presente no título do poema. Vale ressalvar que a metrificação silábica dos versos desse poema-canção é composta por redondilha menor, e também por muitas rimas ricas como, por exemplo, “menino” e “caprino”, “moreno” e “correndo”, etc., assim também como tem algumas rimas pobres como no caso de “menina” e “tangerina”, “criadas” e “escadas”.

    Esse memorando que Vinicius relata nesse poema e melodia evidencia como era a sua vida na infância e principalmente demonstra que desde pequeno ele já possuía uma natural obliquidade para amar as mulheres intensamente e o sonho de ser um poeta. Pelos primeiros versos nota-se que ele era traquino e inquieto, pois tinha energia “e asinhas nos pés” para viver correndo e pulando alegremente os muros, assim como fazem os gatos; além disso, adorava mergulhar nas águas do mar para encontrar estrelas, pedras e conchas. A figura poética descrita no poema-canção aponta um Vinicius de Moraes que adorava brincar de futebol com bola de meia e principalmente amar aquilo que lhe era belo, no caso o amor, ou seja, ele “amava era amar”.

    O ser que Vinicius mais amou na vida foias mulheres, essas criaturas lhe fascinavam de tal forma que desde criança já tinha uma noção do que seria o amor-paixão e sua avassaladora influência na sua poesia e vida. Esse poeta modernista, como se observa no poema, amava as empregadas, as gurias vizinhas, as primas, as “tias de peles macias”, as artistas e amava até as vadias. Esse amor infinito é a sua matéria-prima poética, ou melhor, “seu grão de poesia” que fazia ele se encantar pela palavra escrita.

    “O poeta aprendiz” é uma canção e poema que alude à vida do poeta Vinicius de Moraes enquanto infante aprendiz, pois demonstra que a fase adulta de sua vida é mais que um reflexo da infância, ou seja, é uma consequência de suas ânsias de aprendiz e principalmente do seu enorme amor pelas mulheres.




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    1. Eis o poema-canção abaixo:

      O poeta aprendiz

      Ele era um menino
      Valente e caprino
      Um pequeno infante
      Sadio e grimpante
      Anos tinha dez
      E asas nos pés
      Com chumbo e bodoque
      Era plic e ploc
      O olhar verde gaio
      Parecia um raio
      Para tangerina
      Pião ou menina
      Seu corpo moreno
      Vivia correndo
      Pulava no escuro
      Não importa que muro
      Saltava de anjo
      Melhor que marmanjo
      E dava o mergulho
      Sem fazer barulho
      Em bola de meia
      Jogando de meia-direita ou de ponta
      Passava da conta
      De tanto driblar
      Amava era amar
      Amava Leonor
      Menina de cor
      Amava as criadas
      Varrendo as escadas
      Amava as gurias
      Da rua, vadias
      Amava suas primas
      Com beijos e rimas
      Amava suas tias
      De peles macias
      Amava as artistas
      Das cine-revistas
      Amava a mulher
      A mais não poder
      Por isso fazia
      Seu grão de poesia
      E achava bonita
      A palavra escrita
      Por isso sofria
      De melancolia
      Sonhando o poeta
      Que quem sabe um dia
      Poderia ser.
      Vinicius de Moraes

      Att: Raeltom

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    2. Camillo, o que foi o movimento modernista no Brasil? O que Vinicius produziu se enquadra nos preceitos estéticos dessa escola literária ou vai além? E por fim, o que difere a segunda geração modernista das demais?

      Att: Raeltom

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    3. O Modernismo está cercado de contradições em sua historiografia. Porque ao contar um período muito próximo de sua realidade contigencial, o crítico corre o risco de perder a isenção, a imparcialidade. Perfeitamente imparcial não há como, mas pelo menos o tratamento dado a um tema da Grécia Antiga não mexe com as paixões, as amizades, os afetos, desafetos, inimizades e rusgas.
      Por isso mesmo o Modernismo se apresenta nas histórias literárias "pintado" com as cores mais convenientes para a geração de críticos imediatamente herdeira do Modernismo. É como se você pedisse a Sancho Pança para contar a história de Dom Quixote: só elogios.
      O Modernismo foi um acontecimento percebido como manifestação estética no final do século XIX na Europa. Alguns experimentos mallarmaicos incitaram novas produções, novas ousadias. Chamaram-se "vanguardas modernistas", "vanguardas europeias". Usar o termo "vanguarda" apenas para o Modernismo foi um dos grandes erros críticos. O segundo foi associar Modernidade com Modernismo, conceitos diferentes embora próximos.
      O Modernismo tem uma história muito parcial, a começar pela exclusão dos nazistas: quando muito são citados superficialmente ou analisados em obras monumentais de referência, perdido um estudo entre milhares de páginas não lidas ou mesmo desconhecidas. Os integralistas deixaram obras importantes e tiveram papel preponderante na formação do movimento. Entre 1916-1928, por exemplo, a influência nazi-integralista chegou mesmo a capitanear a Revista de Antropofagia, ou antes os movimentos verde-amarelos por volta da Semana de Arte Moderna de 1922, que deveria chamar Semana de Arte Modernista, para afastar a confusão de nomenclaturas entre Modernidade e Modernismo.
      Mário de Andrade é que apareceu como figura autônoma, embora circulante em quase todos os meios literários. É claro que a opção em obliterar as produções fascistas e destacar as produções mário-andradianas parece a mais correta ideologicamente. Mas temos que verificar se isto é de fato contar o que aconteceu, ou construir um elefante branco, quer dizer, um retrato que não condiz com a realidade. Um crítica disposta a ler Menotti del Picchia, Plínio Salgado, Cassiano Ricardo precisa se instrumentalizar para ver o literário para além das coordenadas político-ideológicas dos autores: porque a arte é meta-ideologia, além-ideologia, isto é, paira acima da ideologia.
      Com a morte de Mário de Andrade, todo aquele movimento que circulava em torno dele, conhecido como Modernismo, dissipa finalmente (1945). Por isso, um Cabral surgirá tão distante do que conhecemos como "Modernismo" (pois nos concentramos na origem, no momento mais forte, que é 1922-1928). Repare que o poeta de Mário era Carlos Drummond de Andrade, que estreia em 1930. Levará a influência mário-andradiana para suas obras seguintes a "Alguma Poesia", livro de estreia. Vinícius surge de outro nicho: seus comparsas eram em geral músicos, e assim se manteve muito entre músicos. Por outro lado, escreveu muita poesia, vasta obra poética, incontestavelmente menos conhecida do que suas canções (letras). A Geração de 30 é artificialmente construída sob orientação mário-andradiana para destacar Carlos Drummond de Andrade no cânone pós-Semana de 1922 e até pós-Antropofagia de 1928. Observe que a maioria dos poetas dessa tal "Geração de 30" ou "Segunda Geração" é composta por poetas em sua maioria já estreantes em 1922, como Cecília Meirelles, Jorge de Lima, Murilo Mendes, etc. etc. etc. Tudo isso é São Paulo, porque o MOdernismo do Rio de Janeiro (Grupo Festa) e o Modernismo do Nordeste ou do Sul são muito mal estudados, quase sempre não são referidos nos capítulos sobre modernismo nas histórias literárias.
      Não pude ainda finalizar nem mesmo o rascunho de uma apostila que explicaria isso pra todos que lessem.
      Aliás, após Simbolismo, tudo aguarda uma historização mais digna e verdadeira.

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  7. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
    PROJETO: VINICIUS DE MORAES, CANTADO
    PROFESSOR: CAMILLO CAVALCANTE
    ALUNO: RAELTOM SANTOS MUNIZO
    TEMA: “POEMA DOS OLHOS DA AMADA”
    DATA: 26/07/13

    A análise do poema e melodia “Poema dos olhos da amada” de Vinicius de Moraes, cuja transplantação para a música foi feita em parceria com Paulo Soledade, obedece a uma investigação do sentimentalismo amoroso, pois nota-se a presença do “eu” que ama uma mulher de olhar sombrio e misterioso.

    O eu-poético começa o poema, no qual o olhar da musa é o objeto a ser questionado, relacionando a visão dela às docas sombrias, que por ventura é composto pelas marcas da solidão de um adeus. Essa descrição mística do olhar da amada faz surgir no leitor uma ideia de mistério por traz da vida dessa mulher, pois seus olhos são aquilo que desnuda o sentimento nebuloso.

    Ao longo do poema-canção o mistério que norteia a ótica da musa continua. Na segunda estrofe o eu-lírico demonstra que ver em seus olhos desgraças marítimas e uma figura assustadora, como por exemplo, “naufrágio” de “navios” e “saveiros”, isso, de certo modo, cria um mistério denso e profundo.

    Nas últimas estrofes a mulher é descrita como possuidora de um olhar descrente, mas são esses olhos que o eu-lírico sonha um dia se tornarem humildes, para enfim serem a matéria-prima da poesia dele, porque a poesia é algo que se reflete apenas naqueles que são modestos e iluminados.

    Amar misteriosamente e intensamente é um tema recorrente não só nos poemas de Vinicius de Moraes, mas também em sua vida pessoal, por isso sua poesia reflete muitas vezes aquilo que ele viveu e sentiu. Pois se tem uma coisa que o “poetinha” fez na vida foi amar; não apenas amar, mas apaixonadamente amar de forma intensa e infinita.


    Eis abaixo o poema examinado:

    Poema dos olhos da amada

    Vinicius de Moraes, Paulo Soledade


    Ó minha amada
    Que olhos os teus
    São cais noturnos
    Cheios de adeus
    São docas mansas
    Trilhando luzes
    Que brilham longe
    Longe nos breus...

    Ó minha amada
    Que olhos os teus
    Quanto mistério
    Nos olhos teus
    Quantos saveiros
    Quantos navios
    Quantos naufrágios
    Nos olhos teus...

    Ó minha amada
    Que olhos os teus
    Se Deus houvera
    Fizera-os Deus
    Pois não os fizera
    Quem não soubera
    Que há muitas eras
    Nos olhos teus.

    Ah, minha amada
    De olhos ateus
    Cria a esperança
    Nos olhos meus
    De verem um dia
    O olhar mendigo
    Da poesia
    Nos olhos teus.

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  8. Camillo, por favor me explique o sentido da estrofe abaixo, pois não conseguir entendê-la completamente.


    "Ó minha amada
    Que olhos os teus
    Se Deus houvera
    Fizera-os Deus
    Pois não os fizera
    Quem não soubera
    Que há muitas eras
    Nos olhos teus."

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    1. Quando você diz "sua poesia reflete muitas vezes aquilo que ele viveu e sentiu", é preciso entender essa frase para além da simples transferência entre vida e obra. O verbo refletir ganha sentido filosófico e transcendental: re-fletir, isto é, fletir de novo, projetar de novo e, nesse novo, criando resultado diferente. A vida serve de inspiração para a arte, mas seus contextos, seus mundos são muito diferentes. Vinícius jamais poderia ter amado uma mulher com muitas eras no olhar: primeiro que, num interpretação mais permissiva ou livre, ela não passaria dos 150 anos conforme aponta a maior longevidade de vida humana conhecida nos últimos séculos; segundo que, numa interpretação mais "tacanha" ou pé-da-letra, seus olhos não tem tamanho para comportar nada além de alguns centímetros e, positivamente falando, não há era nenhuma dentro dos olhos de ninguém.

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  9. De fato é uma estrofe muito rica, em nível semântico. Em primeiro lugar, põe Deus como hipótese, através do condicionante "se". Ao mesmo tempo, procura resolver o enigma da autoria assinalando que o autor daqueles olhos precisa reconhecer muitas eras naqueles olhos. Saber que há muitas eras nos olhos da amada é, pois, condição para ser o autor, mas nem todos que assim visualizarem serão os autores. Por outro lado, o texto não dá a certeza de que Deus exista (por causa do condicionante), nem mesmo certifica que Deus tenha feito aqueles olhos, pois outras entidades poderiam ter feito aqueles olhos: basta reconhecer as eras nos olhos para que já possa ser o autor. Somente uma figura de ficção pode trazer muitas eras no olhar, pois isto significaria, numa denotação, que aqueles olhos viram muitas eras. Mas é só este o sentido? Vamos montar um quadro ilustrativo dos sentidos possíveis, que conseguimos identificar:

    1 - aqueles olhos viram muitas eras
    2 - o material de que eles são feitos vem de muitas eras
    3 - a dialética espaço(olhos)-temporal(eras), numa perspectiva quântica ou onto-teo-lógica, desfaz a ilusória tripartição do tempo, abrindo o tempo unidimensional

    Essas opções não são excludentes, podendo mesmo serem simultâneas sem contradição alguma. Sempre a literatura é plurissignificativa. O primeiro sentido - primeira sentença - pode ser lido tanto no sentido literal como literário. No literal, tratar-se-ia de uma entidade muito antiga, centenária, capaz de ter presenciado milhares de anos, ou mesmo, numa postura reencarnacionista, admitir voltas ou dobras daquela entidade, de modo a perpassar as eras. No sentido literário, pode-se entender que essa entidade, dona dos olhos, tenha conhecido muitas eras simplesmente pelo conhecimento, pela leitura. Em todo caso, há uma valoração implícita do conhecimento como maneira de iluminação. Você acabou percebendo isso de alguma forma: " porque a poesia [SEGUNDO O POEMA] é algo que se reflete apenas naqueles que são modestos e iluminados."

    A crença em Deus, expressa pelo eu-lírico, é relativa. Este conteúdo sobrevive seja qual for a escolha de interpretação. É algo que sobrevive desde a sintaxe, pois o condicionante e a negação tornam imprecisa a identidade do autor do olhos, ao passo que uma sentença afirmativa e ou a supressão do condicionante poderia(m) revelar a identidade desse autor. Veja que, por isso mesmo, a oração anexa não pôde ser formulada como advérbio de causa (subordinação), obrigada a ser uma explicação (coordenação). Antigamente, a análise sintática era chamada análise lógica. O comprometimento da causalidade, devido à imprecisão, à incerteza, resvala para a explicação. E quanto mais comprometida a causa, mais a explicação é relativa, incompleta, insuficiente. Veja como os limites sintáticos influenciam no conteúdo, ou na obra literária como um todo. É inaceitável, dentro dos padrões do português, essa formulação: "os fez Deus PORQUE não os fez quem não sabe das eras neles". A segunda oração não garante a primeira, só colabora. A rejeição não é puramente estrutural (a estrutura de oração principal + oração causal ligadas pelo conectivo "porque" existe perfeitamente no português), mas sintático-semântica (porque a estrutura, mesmo autorizada, não é "lógica", isto é, provoca certo ruído). Não há conteúdo que não surja de uma provocação formal (forma = fala): é a palavra, a parte material, que incita a parte conteudística. Não há nada no poema além de palavras e pausas (silêncio) que as separam e distinguem. O ritmo é apenas saber lidar com essa relação de falar e calar, proferindo o poema adequadamente, conforme pede sua estrutura (conjunto de todas as palavras e suas relações).

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  10. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA-UESB
    PROJETO: VINÍCIUS DE MORAES CANTADO
    PROFESSOR: CAMILLO CAVALCANTI
    DISCENTE: RAELTOM SANTOS MUNIZO
    TEMA: “A PARTIDA”
    DATA: 30/07/2013

    O último poema-canção a ser analisado de Vinicius de Moraes é “A partida”, no qual se percebe a expressão de como seria a trajetória do eu-poético no momento da morte. Com a descrição de como ele queria que fosse o momento de sua partida, nota-se nesse poema a presença do sentimento do autor, mas claro, esse sentimento é elevado poeticamente, afim de que a partida seja uma cerimônia típica dos cenários de sonhos. Os seguintes versos demonstram a presença do imaginário do autor acerca da sua partida, pois parte da obra de Vinicius remete à transplantação de seus desejos e emoções para os poemas: “Que mãe já não terei mais /E a mulher que outrora tinha /Mais que ser minha mulher /É mãe de uma filha minha.”.

    O eu-poético nas primeiras linhas alude ao desejo de ir para as estrelas quando morrer, pois um lugar luzente é a ânsia de quem quer viver eternamente no paraíso. Inclusive, o próprio horário de partida o “eu” tem em mente, por que ele fala que será pela tarde quando a rua estiver deserta e banhada pelo crepúsculo solar. E como é de se esperar nos poemas de Vinicius, a mulher é a figura que vê o momento dele partir e a bela figura humana que ele verá por último.

    A sua alma boemia continuará perambulando por entre os bares da cidade com a companhia de amigos, pois aquilo que o irá acompanhar é seu corpo, com isso o eu-lírico aponta-se como algo além da forma carnal humana e o conteúdo espiritual, causando assim uma distorção da ideia de estrutura alma e carne vigente e encravada na mente humana; além disso, ele inverte a ordem natural da partida póstuma, pois o natural seria a alma partir e a estrutura carnal ficar no plano terreno, mas o que ocorre nesse poema é o contrário, os seguintes versos demonstram a ideia apresentada anteriormente: “Será meu corpo sozinho /Que há de me acompanhar /Que a alma estará vagando /Entre os amigos, num bar.”.

    Contente com a vida irá embora para um lugar cheio de campos floridos e pirilampos. Nos últimos versos a lamúria se faz presente, porque ele diz que “num ponto qualquer da treva/ um vento me envolverá.”, esse vento traz até o “eu”, por meio de uma voz, coisas tristes ao seu ouvido, mas isso não causará dano algum no seu destino, pois a morte o ensinou a ser frio e lúcido. No entanto, somente o clamor e o choro de uma mulher é o que fará ele se ater ao chamado, afinal, amar as damas é o desejo intrínseco do poeta e seus personagens poéticos.


    Eis abaixo o poema-canção:

    A partida

    Quero ir-me embora pra estrela
    Que vi luzindo no céu
    Na várzea do setestrelo.
    Sairei de casa à tarde
    Na hora crepuscular
    Em minha rua deserta
    Nem uma janela aberta
    Ninguém para me espiar
    De vivo verei apenas
    Duas mulheres serenas
    Me acenando devagar.
    Será meu corpo sozinho
    Que há de me acompanhar
    Que a alma estará vagando
    Entre os amigos, num bar.
    Ninguém ficará chorando
    Que mãe já não terei mais
    E a mulher que outrora tinha
    Mais que ser minha mulher
    É mãe de uma filha minha.
    Irei embora sozinho
    Sem angústia nem pesar
    Antes contente da vida
    Que não pedi, tão sofrida
    Mas não perdi por ganhar.
    Verei a cidade morta
    Ir ficando para trás
    E em frente se abrirem campos
    Em flores e pirilampos
    Como a miragem de tantos
    Que tremeluzem no alto.
    Num ponto qualquer da treva
    Um vento me envolverá
    Sentirei a voz molhada
    Da noite que vem do mar
    Chegar-me-ão falas tristes
    Como a querer me entristar
    Mas não serei mais lembrança
    Nada me surpreenderá:
    Passarei lúcido e frio
    Compreensivo e singular
    Como um cadáver num rio
    E quando, de algum lugar
    Chegar-me o apelo vazio
    De uma mulher a chorar
    Só então me voltarei
    Mas nem adeus lhe darei
    No oco raio estelar
    Libertado subirei.

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  11. Camillo, o que é e qual a importancia das vanguardas para a literatura?

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